Ruputra nos deixa mais intrigados, In Stars and Time é lindo de morrer e como apoiar a animação no cinema
- Fefe Urresti
- 2 de abr.
- 8 min de leitura
Oi, pessoal!
Março foi um mês bem interessante e cheio, eu tive que escolher a dedo os destaques do mês. Então sem mais delongas, vamos ao que interessa.
E assim acaba a segunda temporada de Ruptura
Para quem não conhece, Ruptura é uma série da Apple TV+, criada pelo Dan Erickson, produzida e com alguns episódios direcionados pelo Ben Stiller. Neste universo, uma grande empresa chamada Lumon promove um procedimento chamado Ruptura, no qual as memórias de uma pessoa são divididas em duas, separando a vida profissional da pessoal. Enquanto o funcionário está no andar da Ruptura, ele não tem memória nenhuma de fora do trabalho, e ao sair, a pessoa não se lembra de nada do que fez lá dentro.
Eu acredito que esta é uma série que quanto menos você souber sobre ao assistir, melhor vai ser sua experiência, então pule a seção de spoilers e vá para o próximo tema se você ainda não tiver assistido ou não estiver em dia. É uma série que vale muito a pena, que discute não apenas questões éticas de corporações capitalistas mas também de identidade e essência, além de ser muito engajante visualmente e sonoramente.
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SPOILERS DA SEGUNDA TEMPORADA DE RUPTURA
Esta foi realmente uma baita temporada. Em geral eu curti muito e terminou em um tom em que eu não sei o que esperar para a próxima.
Meus episódios favoritos ficam empatados entre o episódio 7 Chikhai Bardo (daqui a pouco elaboro sobre) e o episódio 10 Cold Harbor. Ele foi um excelente season finale, que culminou muito bem tudo que foi construído durante a temporada. Esqueci de respirar em vários momentos, o diálogo do innie com o outie do Mark foi uma aula de montagem (além do belíssimo detalhe de manter o sinal do elevador quando rolava a transição), a banda foi exagerada e divertida, a cena da mulher do cabrito espetacular, o tão esperado reencontro entre Mark Scout e Gemma que foi destroçado com a escolha final do Mark S de ficar com a Helly. Cinema.
Uma questão que vi o pessoal criticar sobre esta temporada foi a segunda metade, como o ritmo deu uma baita freada com os episódios 7 e 8. Eu concordo, mas a série precisava responder perguntas essenciais e, sinceramente, não sei onde mais encaixaria, por que senti que funcionou bem. Chikhai Bardo foi indispensável e, até o momento, o episódio mais bonito da série, podem dar todos os Emmy's. Até o momento nós não conhecíamos nada da Gemma, e em 50 minutos você fica perdidamente apaixonado não só por ela, mas pelo casalzão. Jessica Lee Gagné, a diretora do episódio e diretora de fotografia da série, conseguiu trazer calor e vida para a série, que até então tudo era frio e neve que não acaba, espetacular. Sem esse episódio não sofreríamos tanto com a Gemma desesperada gritando pelo Mark no final da temporada, e a transição para a câmera analógica durante a corrida de Mark e Helly traz de volta a afetividade e o calor do amor.
Vou rapidamente defender também o episódio 8, Sweet Vitriol, que muita gente detestou, mas eu adorei. Cobel é uma personagem fascinante e este episódio foi muito legal conhecer o passado dela e ter mais de world building, conseguindo até entender o que a Srta. Huang, uma criança, está fazendo trabalhando no andar da ruptura. Quando descobrimos que foi Cobel que elaborou e fez a ruptura funcionar e que ela não levou créditos por isso entendemos muito mais das motivações dela. Por hora ela quer acabar com a Lumon, mas será que se eles demonstrarem gratidão e reconhecer a importância do trabalho dela, ela volta?
Quanto os outros personagens, foi bem interessante ver os arcos do Dylan e do Milchick nesta temporada. Os dois eram personagens que eu gostava pouco, mas o desenvolvimento deles me pegou bastante. Senti muita falta do Irving, eu amo tanto ele junto com o Burt. A cena dos dois na estação de trem acabou comigo. Irv pelo amor de Deus, volte.
Eu não sou muito de teorizar, mas minha teoria sobre qual o objetivo da Lumon sempre foi trazer Kier de volta. A princípio pensei que Gemma teria morrido e eles conseguiram trazer ela de volta a vida, mas Kier morreu a muito tempo atrás, o corpo já teria se decomposto. Mas depois dos episódios 7 e 10, quando vemos o que rola no andar da testagem e Cobel explica o que exatamente o setor de refinamento de macro dados (MDR) está fazendo, minha teoria se sustenta. Além de venderem a ruptura como um procedimento para você não sofrer mais na vida, ao refinar os humores, seria possível fazer um novo Kier, o único que conseguiu dominar os 4 humores. Talvez seja por isso que os mais obcecados da seita ficam enxergando o Kier nos outros.
Enfim, enquanto lançava a segunda temporada eu sentia eu passava pela semana apenas aguardando sexta-feira, agora viverei apenas aguardando pela terceira temporada. Só espero que demore bem menos que 3 anos para sair.
FIM DOS SPOILERS DA SEGUNDA TEMPORADA DE RUPTURA
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Eis que você fica preso em um loop temporal
Esta que é a premissa de In Stars and Time, um jogo RPG por insertdisc5, nome de desenvolvedora de Adrienne Bazir. É um jogo com uma estética muito bonita e interessante, designs de personagem cartoons mesclando com o overworld em pixel art, e a paleta de cores em escala de cinzas.
Você vive a história de Siffrin, o líder do tipo quietão do grupo, que viaja com Mirabelle, Isabeau, Odile e Bonnie, na missão para impedir King de continuar congelando os cidadãos de Vanguarde no tempo. O jogo começa um dia antes da batalha final épica, em que você tem tempo para conhecer mais da cidade e ter uma festinha do pijama com a sua party. No dia seguinte, vocês entram o castelo tomado por King, só que Siffrin não percebe uma armadilha no primeiro corredor e morre. No entanto, ele acorda na véspera da batalha, exatamente onde o jogo começou. Então que percebemos que ele está preso em um loop temporal.
Os loops não apenas servem como motivação para viver a aventura, mas também são muito bem trabalhados como mecânica de jogo. É muito interessante como para ter uma gameplay eficiente, você é encorajado a ir e voltar entre estes dois dias, para desbloquear salas secretas, descobrir mais sobre King e conhecer melhor seus companheiros de viagem. Em nenhum momento a história parece 100% repetitiva, pois em um dado momento, Siffrin começa a sair do "roteiro" para ser mais rápido, já que sabe o que vai acontecer, e os outros personagens ficam desconfiados de alguns comportamentos. Claro que você não está sozinho, logo no primeiro reset você conhece Loop, uma criatura do universo com cabeça de estrela que é o único que lembra também de o que você fez em cada loop. Quando você precisa, ele sempre está disponível para conversar e dar dicas, seja debaixo da árvore dos desejos no vilarejo ou por telepatia, habilidade que você desbloqueia mais tarde no jogo.
Um ponto que pegou muito forte para mim foi justamente a construção de Siffrin como personagem. Eu acho que este é o personagem de vídeo game que eu mais me identifiquei na minha vida, o que é bizarro. Tudo que ele falava e pensava sobre ele mesmo ou a situação, eu pensava "ingual eu". Conforme o tempo foi passando, jogando por 10, 20, 50 loops, eu me empatizei muito com Siffrin perdendo as esperanças. Mas também foi lindo de ver ele em alguns loops se conectar com seus amigos, a ponto de eles virarem sua família, são todos queridos, com suas qualidades e defeitos. Sem dar muitos spoilers, mas quero muito um Isabeau para o meu Siffrin.
Sobre a gameplay em si, no geral é bem divertida. A mecânica de batalha com pedra/papel/tesoura é muito fácil de entender, mas alguns quebra-cabeças precisei procurar a solução online por ter ficado um tempo preso. Os diálogos são bem elaborados, com ótima representatividade, e apesar de terem poucos momentos de escolha de resposta, é bem interativo e dinâmico.
O final do jogo foi bem catártico. Fica bem claro que a história que Bazir quis contar. In Stars and Time é sobre a importância da comunicação e como lidar com a efemeridade da vida e seus momentos. É um jogo muito impactante e que sempre irei recomendar. Sei que a história começou como quadrinho, então já sei qual será minha próxima leitura.
Confira o site oficial, a página da Steam e o trailer:
Apoie a animação no cinema!
Neste mês de abril é um bom momento para você dar uma força tanto para animação nacional quanto internacional.
No caso do cenário nacional, me refiro ao longa que estreou dia 27 de março Mundo Proibido (direção de Alê Camargo e Camila Carrossine). É um filme 3D de ficção científica, em que a dupla de aventureiros Fujiwara Manchester e Lydia Moshivah seguem um mapa do tesouro que os leva para o Mundo Proibido. O filme realmente brilha na direção de arte, com designs estilizados e finalização com cara de pintura, mas de resto fiquei com muitas ressalvas (que você pode ler aqui).
Confesso que fiquei bem triste que não gostei do filme. Como uma pessoa que faz parte do mercado de animação, sei o quão difícil é não só fazer um filme acontecer aqui no Brasil, mas conseguir com que ele chegue ao público geral é infelizmente raro. Aos poucos isto tem melhorado, mas na sessão de pré-estreia Camargo contou que Mundo Proibido estava pronto a anos e passou pelo circuito de festival a 3 anos. Ganhou vários prêmios e fez parte da seleção do Annecy (um dos maiores e mais importantes festivais de animação no mundo). Assistindo ao filme, eu até entendo a dificuldade. Mesmo assim, eu recomendo para dar uma força para nós, quem sabe ele consiga agradar ao público geral. Se você, assim como eu, tem um olhar mais crítico por conhecer a técnica, eu peço desculpas se você se estressar com ele também.
Se você quer uma outra opção de animação para ver no cinema, dia 10 estreia o filme novo do Looney Tunes - O Dia que a Terra Explodiu. Os motivos para você apoiar esta produção não se comparam com os de uma produção brasileira, mas os animadores da Warner Bros (a produtora e dona do IP do Looney Tunes) têm tido muita dificuldade para distribuir seus trabalhos. Várias obras canceladas perto do fim da produção, títulos removidos do catálogo do MAX, impossibilitando maneiras legais de assistir, e o fim da Cartoon Network nos EUA dão a impressão de que a empresa realmente não liga para a animação, apenas visa os lucros (que inclusive não têm vindo). Então o fato deste filme chegar nas salas de cinema é um milagre e uma oportunidade de mostrar aos engravatados da Warner que as pessoas gostam sim de animação.
Vamos aguardar o próximo mês
Esta edição foi mais longa do que o esperado, mas Ruptura e In Stars and Time realmente não saem da minha cabeça, eu vou recomendar em qualquer oportunidade. Apesar de não ter focado muito em filmes, você pode conferir meu diário no Letterboxd o que eu assisti e se quiser, depois bater um papo sobre os filmes. Aproveito para recomendar Mickey 17, Dias Perfeitos e Adolescência (que é série, mas equivale a assistir 2 filmes de 2 horas, e é uma paulada.
Sendo bem sincera, não sei o que me aguarda em abril no audiovisual (além do filme do Looney Tunes), então eu estarei tão surpreendida quanto vocês.
Nos vemos na próxima!
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